Quando uma folha de papel e a autoridade de minha mãe me ensinaram a gerir meu tempo
- Cintia Neves de Azambuja
- 26 de jul. de 2024
- 4 min de leitura

“A única razão para o tempo existir é para que tudo não aconteça de uma vez”. A frase é de Albert Einstein e parece óbvia. Mas eu mesma já desafiei a “teoria” de Einstein. Só que, por mais que a gente teime em colocar mil tarefas no nosso dia, ele não terá mais do que as 24 horas previstas. Eu posso falar com propriedade, porque já tentei esticar meu dia várias vezes e ele teima em não me obedecer.
Minhas tentativas começaram cedo, ainda na infância, quando o tempo de brincadeiras nunca era o suficiente. Como disse Buda, “o problema é que você acha que tem tempo.” Pois é, eu achava. E como as preferências pessoais tomam conta de grande parte do nosso tempo, o estudo, o piano e os deveres de casa ficavam para depois e, cá entre nós, nem sempre esse tempo chegava. Foi aí que minha mãe entrou em cena para arrumar a bagunça. E dois elementos foram fundamentais: a autoridade dela e uma folha de papel.
Ela sentou comigo e disse que iria fazer um planejamento para todos os dias da semana e que eu teria que cumprir. Poderia ser premiada ou punida, dependendo da minha atuação.
Colocamos no papel tudo o que eu deveria fazer: o horário em que estava na escola, que fazia refeições, que estudava e fazia dever de casa; o período em que ia para a aula de piano, que estudava piano em casa e o tempo de brincar. Não me lembro se havia outras tarefas naquela época. Mas ela distribuiu tudo num papel, separado por dias da semana e, cada dia, com os horários e atividades. Tudo numa tabela que ela pendurou na porta da geladeira. Eu me lembro de ajudar no processo, dizendo a ela os melhores horários para brincar, já que sabia quando meus amigos iam para o pátio do prédio onde eu morava.
Eu devia ter uns 9 ou 10 anos, não me lembro ao certo. E minha mãe usou a paciência e sua habilidade de pedagoga para me ensinar a gerir meu tempo. Afinal, “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”, disse um dia o Rei Salomão.
Ao longo da semana, se eu estivesse no horário de estudar e meus amigos chamavam para brincar, eu avisava que iria trocar a hora de brincar pelo tempo de estudo. E tudo bem, já que eu cumpria o que era determinado. Funcionou muito bem na minha infância, apesar de guardar um sentimento de obrigação que me incomodou por muito tempo. Afinal, eu era a única criança do prédio com hora para tudo, o que obrigou minha mãe a dizer a frase mantra dos pais: “você não é todo mundo”! Isso não me parecia bom na época. Mas tenho que concordar com Charles Darwin, quando ele diz: “Um homem que ousa perder uma hora do seu tempo não descobriu o valor da vida”. Melhor do que Fernando Pessoa, que um dia escreveu: “Meu passado é tudo o que deixei de ser.” Duas frases para você refletir.
O tempo passou. Eu cresci. Tive um casal de filhos com seis anos de diferença um do outro. Características diferentes, mas ao ver o mesmo problema em gestão de tempo que eles tinham, sabia que precisava agir. Com minha filha Laura não tive muito problema com isso, apesar de que, em alguns momentos, o nome dela era procrastinação. Então, com ela, pedi que fizesse seu próprio planejamento porque, se não fizesse, eu mesma faria, ela gostando ou não. Olha a autoridade aí! A folha de papel ficou por conta dela. Mas com meu filho Diogo foi mais complexo! A frase do escritor americano Henry David Thoreau poderia ser usada aqui: “…como se você pudesse matar o tempo sem ferir a eternidade.”
Conversando com uma educadora comportamental, na época, ela sugeriu que o Diogo usasse o celular como a agenda dele, com direito a alarme e tudo. Então, ele registrou todos os horários. Era a versão 4.0 do papel preso na geladeira pela minha mãe. O resultado? Ele parou de perder o horário dos compromissos fora de casa (como curso de informática e de inglês), o que antes era constante. Ele passou a fazer seus trabalhos da escola e tinha tempo para o videogame, que poderia aumentar um pouco se ele cumprisse todo o resto (se deixasse, seria o dia todo nele!).
O que costumo dizer para os pais que passam pelo mesmo problema com os filhos é que isso é normal. Não nascemos com um relógio no pulso. Temos que aprender a gerir o tempo. É uma habilidade a ser adquirida e é importante para a vida adulta. E é difícil aprender sozinho. É aí que entram os pais, sua autoridade e a folha de papel. Sim, é habilidade que faz uma diferença incrível. Jovens que sabem administrar o próprio tempo tendem a ser adultos mais responsáveis, apresentam uma rotina muito mais organizada, são mais comprometidos e melhores profissionais. E sejamos sinceros: quando estamos com tudo em dia, ficamos menos estressados e podemos apreciar o tempo livre com mais tranquilidade. É como Diógenes disse: “Tempo é a moeda mais valiosa que um homem pode gastar.”
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Personagens citados:
Albert Einstein - um dos maiores físicos da história e suas contribuições mudaram o paradigma da ciência do século XX.
Buda - também conhecido como Siddartha Gautama, foi um líder religioso que viveu na Índia por volta do século VI a.C
Rei Salomão - foi o terceiro rei de Israel
Charles Darwin - foi um naturalista, geólogo e biólogo britânico, célebre por seus avanços sobre a evolução nas ciências biológicas.
Fernando pessoa - foi um poeta, filósofo e dramaturgo português
Henry David Thoreau - foi um escritor norte-americano.
Diógenes - foi um filósofo grego nascido em 413 a.C
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